O conto de Romer - Provérbio Chinês, Parte 1


Tudo saiu como planejado... Seus pais e sua irmã foram para o aniversário do seu avô, enquanto Romer, aparentemente iria ao campeonato de natação.

Romer e Clara ficaram de passar na casa do Pôca, para de lá, irem ao acampamento. O motorista do pai do Pôca era amigo do pessoal todo, era um velhinho chinês, muito simpático e pequeno, embora sábio.  Chamava-se  Yong, e sempre acobertava os meninos quando precisavam aprontar alguma coisa. O Senhor Yong, era um velhinho muito perspicaz, sempre tinha algo na ponta da língua pra falar, na maioria das vezes era algum tipo de provérbio chinês.
Como combinado, Romer chegou às 9 da manhã. Clara ainda não tinha chegado, por mais que fosse prática e descolada, ainda era uma mulher, e por sua natureza, sempre se atrasava.  Romer entrou, comprimentou Pôca, e notou a presença do senhor Yong, que tomava tomava chá na mesa da cozinha, então Romer foi em direção a ele.
Romer não era como a maioria dos jovens da sua idade, tinha um estranho fascínio por velhos. Adorava conversar com gente mais velha que ele. Para Romer, era como se eles tivessem um mundo nas suas costas. Um mundo de histórias, risadas, desastres e aventuras. Romer conseguia ver aquilo nos olhares deles. Ele tinha a impressão que, quanto mais velho, mais o olhar era característico, como se cada experiência vivida, fosse tatuada no olhar. O olhar dos velhinhos eram carregados de um brilho diferente.
Bom... com o Senhor Yong não era diferente. O velhinho estava sentado na cozinha assistindo TV. O noticiário estava dando a notícia de um industrial que havia morrido no dia anterior,   o homem  havia deixado para trás dois filhos e uma esposa, mas  os dois filhos não moravam com ele.
Romer notou um interesse diferente no senhor Yong, enquanto via a notícia. O velhinho cerrava os olhos de uma maneira engraçada, como se tivesse uma opinião a respeito daquela situação. Romer então decidiu perguntar.
- Bom dia, Senhor Yong!
-Bom dia, pequeno Li! Como está a sua irmã? Soube que ela não passou muito bem na noite de ontem...
- Já está tudo bem. Ela e as amigas passaram da conta nas brincadeiras, acabou dando errado no final.
- Essas coisas sempre acontecem quando passamos muito dos limites!
- É verdade. Mas... mudando de assunto. O que o senhor tanto observava nessa notícia do jornal?
- Eu estava pensando sobre esse homem que morreu... pensava que provavelmente ele sempre andava ocupado demais para se preocupar com os que o amavam, seus filhos provavelmente não eram próximos dele, sua esposa infeliz, e ele nem mesmo devia ter tempo para ele. É como meus ancestrais diziam, Faze por viver de tal modo que, à hora da tua morte, todos chorem e só tu rias.
Será que esse homem de negócios viveu esse ensinamento, pequeno Li?
Imediatamente, Romer pensou que não. Pensou também que nem ele mesmo vivia aquele ensinamento. Logo em seguida veio a imagem de Back a sua mente. Ninguém chorou por ele... Será que ele viveu de tal modo que quando morreu, enfim, sorriu? Provavelmente, não. O que nós devemos fazer para viver esse ensinamento? Pensou Romer.
Acho que a resposta está no que nós representamos para nós mesmos e para o mundo. Nós temos que viver intensamente, amar quem nos ama, sempre aprender algo novo, algo bom. Sermos eternos aprendizes. Dessa forma, quando morrermos, aqueles que nos circundam, chorarão, pois nós representávamos algo bom para eles. Já nós, sorriremos, afinal, aproveitamos e fizemos tudo o que podemos para sermos felizes.
O senhor Yong, olhou para Romer fixamente, em seguida deu um leve sorriso com o canto da boca. Romer teve a certeza que o velhinho sabia de tudo o que se passava na sua mente naquele momento.
A campainha tocou e clara chegou em seguida. Já era hora.
Antes de viajar, O Senhor Yong olhou todos os detalhes do carro para ver se estava tudo em ordem, em seguida entrou no carro, já falando.
- Gosto de olhar sempre se está tudo certo. Tem um provébio chinês que fala o seguinte: "Um pequeno vazamento, eventualmente, afunda um grande navio."
Duas horas depois estavam chegando ao acampamento. Romer foi acordado por Clara, eufórica.
- Chegamos! Acorda, Romer!
Romer abriu os olhos. Estavam passando por uma placa que dizia: “Acampamento Happiness Drunk! Sejam Bem-vindos! “
Seu coração disparou. Ele imaginou se a Bel já havia chegado. Provavelmente já, todos saíram muito cedo para curtir as primeiras horas da programação.
O carro entrou por uma estrada de barro, cercada por árvores de todos os lados. Alguns carros formavam um pequeno congestionamento, levando o Senhor Yong a diminuir consideravelmente a velocidade. Isso aumentava cada vez mais a ansiedade de nossos personagens.
Quando, enfim, chegaram, desceram as malas do carro e se direcionaram a recepção, onde seriam informados como proceder.
As equipes seriam sorteadas logo após o almoço. Romer olhava ao redor, ora reparando na euforia de todos ali, ora procurando por Bel.
Bom... para melhores esclarecimentos. Cabe-me detalhar quem é Bel e qual o interesse de Romer nela.
Tudo começou no dia em que estava tendo um passeio no Hawaii, onde Carlo e Samanta estavam. Uma vez no Hawaii, não tinham como acordar Romer e Katharine para ir ao colégio. Uma vez sem os pais para acordá-los, não conseguiram acordar na hora e se atrasaram para o colégio. Uma vez atrasados, tiveram que esperar a primeira aula acabar para entrarem nas suas respectivas salas de aula. Uma vez tendo que esperar a segunda aula começar, Romer se acomodou no corredor, onde por sua vez, estava Bel.  Romer estava com sono e um tanto distraído naquela manhã, nem sequer notou a presença da menina ao seu lado.
Bel olhou para Romer, olhou para o chão como se pensasse se falava ou não. Depois olhou de novo para Romer... Decidiu falar.
- Ei... sua farda está errada...
Romer voltou a si, olhou confuso para a menina. Não conseguia se responder como não tinha a notado ao seu lado. Era linda. Cabelos pretos lisos e longos, um sorriso branco e simétrico, olhos verdes vibrantes e para completar, umas sardas envolvendo o nariz.
- Oi? Tem alguém ai?
-Ôpa!
Eu falei “opa”?, Não acredito que eu disse isso, pensou Romer.
-Sua farda está errada...
- Ã...? Não... não... ela está certa. Hoje é o dia em que fazemos educação física.
- Estou me referindo a outra coisa. Sua farda está ao contrário... A não ser que suas costas sejam na frente. A menina deu uma risadinha e deu de ombros.
Romer olhou para si mesmo.Tinha posto sua farda ao contrário sem notar. Seu Rosto ficou num tom de rosa claro. Estava completamente envergonhado e sem saber o que fazer. Bel caiu na gargalhada, quebrando o gelo.
- Relaxa, acho que ninguém notou...
- É... acho que não! Pensou, Romer.
-  Meu nome é Bel, prazer...
- Romer! Eu me chamo Romer...
- Seu nome é sinistro, Romer!
- O que tem demais nele?
-  É um anagrama de “MORRE”.
-Romer fez uma cara pensativa. Logo em seguida respondeu.
- Nunca tinha parado pra pensar sobre isso... mais estranho seria, se meu nome fosse "Vevi" não é verdade?
- Você é estranho, Romer!
Ambos caíram na gargalhada.
 Aquela menina mexeu com Romer como nenhuma outra havia mexido. Naquele momento não era só a farda de Romer que estava errada... tudo ficou meio errado, fora de rumo, diferente.
Mas sua felicidade não demorou muito. Horas mais tarde, Romer descobriu que Bel era namorada do maior imbecil do colégio, Heitor, era o seu nome.
Acontece que nunca mais Romer e Bel conversaram outra vez, até porque Bel só estava ali para acompanhar sua mãe que era professora do colégio. Ela estudava em outro colégio, pois morava com o pai.
Bom... Romer descobriu, através de uns amigos do Heitor, que a Bel iria ao acampamento. Aquela seria a oportunidade perfeita. Ele não se importava com o Heitor e o seu tamanho, estava cheio de coragem.
Acertados os devidos esclarecimentos, vamos agora voltar ao acampamento.
Romer se deparou com Heitor descendo de um carro. Estava junto com alguns amigos, mas Bel não estava lá.
Procurou mais um pouco, até que a avistou de longe. Imediatamente suas pernas estremeceram. Ela estava vindo em sua direção. Parecia feliz. Ele não sabia o que iria falar. Ela estava chegando mais perto. Romer inchou um pouco o peito, fez  a cara mais confiante que conseguiu, quando ela se aproximou mais um pouco, ele sorriu. Ela se aproximou mais ainda e passou direto. O peito de Romer se desarmou imediatamente. Bel o havia visto, mas não o reconheceu.
Romer não desanimou, estava determinado. Ela não só iria o reconhecer, como iria amá-lo. Não seria fácil, mas Romer já tinha tudo planejado.
Chegou a hora do sorteio dos grupos. Romer, Clara e Bel ficaram no grupo azul. Pôca e Heitor ficaram no vermelho. Porém, isso não importava muito, a graça do acampamento era quando anoitecia, quando não haviam grupos, onde todos bebiam e faziam o que queriam nos arredores do acampamento.