- Eu te amo...
- Eu também te amo Olívia, mas não consigo esquecer tudo o que aconteceu...não dá mais.
-Por favor, James! Perdoe-me. Tudo que eu fi...
Eram quase 2 da manhã e Romer havia conseguido dormir. Mas no dia seguinte ele iria ficar bem nervoso , por não saber se James havia, ou não perdoado Olívia, mas o dia iria ser bem agitado para ele se preocupar com o futuro dos protagonistas do filme.
Romer dormiu no sofá, uma vez que a TV do seu quarto tava quebrada a mais ou menos 3 meses e ninguém tinha tempo para mandar concertá-la. Desde então, Romer dormia no sofá da sala pelo menos 3 vezes por semana, tinha alguma coisa naquele sofá que deixava Romer relaxado, talvez fosse o modo como o corpo se moldava perfeitamente às curvas do sofá.
Naquela noite, Romer sonhou com Back. Os dois corriam pelo jardim da sua casa, mas o jardim nunca terminava, não importava o quanto eles corressem. Porém, começou a acontecer uma coisa estranha. Back começou a desacelerar o passo, até, por fim, parar. Romer não entendia porque ele havia parado de correr, foi então que Back se deixou cair na grama verde do jardim. Romer, então correu pra perto dele e tentou, em vão, reanimá-lo, mas ele não reagiu...Back tinha morrido.
Romer, prontamente correu pra dentro de casa para avisar aos seus pais. Sua mãe estava na cozinha tentando cozinhar alguma coisa quando Romer chegou correndo ofegante.
-Mãe, o back morreu!
-Tudo bem filho, avisa ao seu pai, mas antes, pega a margarina na geladeira, por favor. Respondeu Samantha como se nada demais tivesse acontecido.
-Mas mãe...o Back morreu! Você não liga? Então Samantha olhou para ele e disse.
-Meu filho, a morte é sina dos viventes...todos vão morrer um dia.
Romer não conseguia acreditar na frieza da sua mãe, então foi avisar ao seu pai a triste notiçia.
- Pai, pai! O Back acabou de morrer!
- Como aconteceu isso? Romer ficou surpreso, seu pai se interessou por Back, diferente da sua mãe, que se mostrou cruelmente indiferente a morte do cachorro.
- Como aconteceu isso, filho?
-Aqui no jardim pai, a gente tava correndo e de repente ele parou de correr e caiu morto...
-Nossa! Vou ter que perder o jornal para enterrar ele, vamos lá, “Quicoitinho”, venha me ajudar a enterrar o cachorro!
Carlo chamava Romer de “Quicoitinho” porque quando era pequeno, quando queria biscoitinho, Romer falava que queria “quicoitinho”, desde então, Carlo sempre chamava Romer assim.
- Romer ficou estarrecido! Todo Mundo simplesmente não ligava para o back, estavam todos tão preocupados consigo mesmo, que as outras coisas pareciam irrelevantes.
Quando Romer voltou para o jardim, viu uma pessoa deitada no lugar onde Back havia morrido, quando chegou mais perto percebeu que era ele quem estava ali deitado, então olhou para o seu pai, que cavava um buraco no canto do jardim. Romer correu em direção a ele. Quando chegou mais perto, gritou. – Pai!
Mas ele não ouviu. Romer chegou mais perto e gritou novamente, em vão. Ele estava morto, não era o cachorro que havia morrido, era ele. Romer correu para a cozinha, sua mãe estava falando ao telefone com uma amiga, avisando que não poderia ir a reunião do grupo que freqüentava toda semana porque o filho havia morrido.
Naquele momento, Romer se viu no lugar de Back, ele morreu, porém seu pai estava chateado por que iria perder o jornal e sua mãe a reunião. Então Romer começou a chorar, não conseguia fazer outra coisa se não chorar, ele morreu, e daqui a pouco tempo seria esquecido.
Romer, então, acordou.
Ficou imediatamente aliviado por está deitado no sofá, e o melhor, vivo! Ficou ali por alguns instantes, pensando...
O que aconteceria se eu morresse? As pessoas iram esquecer de mim, claro que não imediatamente, mas com o tempo eu seria cada vez menos lembrado. Até o dia em que eu seria um simples retrato na parede. Isso o deixou tremendamente triste.
Assim como Back, Romer iria ser esquecido.
Foi ai que Romer descobriu o porquê da imagem do Back não sair da sua cabeça. Ele tinha medo de ser esquecido. Romer descobriu uma coisa muito importante naquele momento. Todos nós estamos tão ocupados com nós mesmos, com os nossos problemas, nossos amores, nossas dores. Estamos todo o tempo ,tão preocupados em como vamos nos mostrar para os outros, que acabamos nos esquecendo de algo muito importante...os outros.
Romer percebeu que é tão irrelevante na vida das outras pessoas, como as outras pessoas são irrelevantes na sua vida.
Foi com esse pensamento que Romer entrou no carro para ir ao colégio. No caminho, Samantha e Olga, sua irmã, falavam sem parar, como era de costume.
Romer estava perdido em seus pensamentos quando sua mãe fala.
- Romer! Lembre-se que semana que vem é aniversário do seu avô e vamos passar o final de semana na casa dele, não se esqueça de preparar os seus dizeres para a festa.
Era aniversário de 83 anos do seu avô, pai do seu pai. Romer podia prever cada detalhe do que aconteceria na festa. Iram ser três dias de comemoração, em meio a puxões na bochecha, gritaria e gargalhadas, típica festa de uma família italiana. O que Romer mais odiava nessas festas era a intenção dos mais velhos em fazer com que os mais novos sigam a risca as tradições da família, Romer era forçado a dançar, falar gritando e gostar das mesmas coisas que seus tios e primos. Isso o deixava extremamente irritado. Romer sabia que teria que arranjar uma desculpa muito convincente para o senhor Alphonso Copella. Seu avô tinha um dom incrível, ele sempre sabia quando alguém mentia. Ele conseguia saber o que Romer pensava antes mesmo dele falar alguma coisa.
- Desce, Romer! Chegamos!
Romer desceu do carro, imediatamente leu o nome do colégio, de ferro chumbado , na parede de tijolos vermelhos. Colégio Católico São Bernardo, em frente tinha uma escada com um corrimão, o qual parecia um ímã, todos adoravam conversar encostados no maldito corrimão.
Romer gostava de andar devagar, quando está com alguém que gosta de andar rápido se sente muito incomodado. Quando anda rápido imagina estar com pressa, isso faz com que ele se sinta estar com uma obrigação de chegar rápido em tal lugar, pensa estar atrasado, mas só está andando rápido. Era por isso que gostava de andar devagar, desse modo sabia que estava no tempo certo.
A segunda-feira estava cheia de novidades, assim que entrou na sala, Romer foi abordado por Clara, sua melhor amiga, que estava em estado de êxtase, como se estivesse prestes a contar algo que mudaria o Mundo.
O motivo da euforia, era o Acampamento Happiness Drunk, o evento mais divertido do ano, acontecia numa cidade perto. Esse Acampamento era o sonho de qualquer adolescente da região, lá ficavam todos bêbados e felizes, sem contar as atrações, festas no escuro absoluto, eles colocavam uma lona gigante numa colina e enchiam de sabão, geralmente todos chagavam quase nus no final da descida, sem falar nos luais e outras brincadeiras que tinham. Enfim, Clara contou que o Acampamento tinha sido adiantado para a próxima semana, e estavam todos combinando para ir.
Romer lembrou imediatamente do aniversário do seu avô. Estava confirmado, teria que bolar uma desculpa para ter que faltar a festa.
O acampamento era um evento imperdível, Romer nunca tinha ido por causa da idade. Mas esse ano ele não poderia faltar, lá ia está completamente todo Mundo.
Bom, mas por enquanto, teria que assistir aula. Romer gostava de sentar no ultimo banco, de lá ele tinha uma visão panorâmica de toda a sala e não corria o risco de enfrentar o mau hálito, nem os cuspes de alguns professores. Clara sentava a sua frente e o Poca sentava ao seu lado.
Por causa do seu sonho, hoje Romer estava com um interesse especial nas pessoas, na maneira como elas se comportavam entre si.
Nos intervalos das aulas, Romer observou que todos nunca paravam de rir, sempre um amigo falava algo com o intuito de fazer os outros rirem, isso acontecia com todo Mundo. Era como se cada um quisesse aparecer de alguma forma, nos jovens, essa forma são as piadinhas. O dia foi passando e Romer ficava cada vez mais angustiado com o barulho. Em um momento, no intervalo para a ultima aula, Romer fechou os olhos para tentar distinguir alguma coisa em meio aquele barulho todo.
- Não dá pra distinguir uma só voz, parece que todas as vozes juntas formam uma única. Uma zoada infernal. Uma gargalhada! Mas fora isso, só consigo ouvir essa zoada. Que inferno! Se concentre numa única voz, cara! Nada...tente relaxar, não abra os olhos ainda. O que eles tanto falam?! Por que simplesmente não falam baixo? Tem algum prazer subliminar em falar alto? Não consigo nem pensar direito com esse barulho! AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!
Silêncio...
Romer então percebeu que ele gritara de forma absolutamente alta! Após isso, houve um silêncio, e nesse momento ele sabia que todos estavam olhando para ele. Estava com medo de abrir os olhos, sabia que se os abrissem, todos ririam da sua cara. Ele estava tão incomodado e difuso em seus pensamentos que não se deu conta que estava no meio da sala de aula, então gritou o mais alto que pôde, só agora percebera a basbaquice que havia feito.
Os segundo passavam, ele não queria abrir os olhos, o silêncio continuava. Então ele decidiu o que fazer. De repente se jogou no chão.
- Ele desmaiou! Uma pessoa gritou! Então o barulho recomeçou e foi aquele batalhão de gente ajudar aquele coitado que teve algum tipo de crise e desmaiou.
Romer ainda não tinha coragem de abrir os olhos. Ele estava se odiando muito naquele momento.
- Por que diabos eu fiz isso? Eu sou um babaca! Meu Deus, vou esperar um pouco até fingir que estou acordando...
Então, para o alívio de todos, Romer estava acordando, parecia meio tonto, sem saber direito aonde estava, então Clara pediu para que todos se afastassem para ele poder respirar, quando o enfermo se recuperou mais um pouco, Clara perguntou.
– O que aconteceu? Você está bem?
- Estou, estou. Respondeu Romer meio desorientado.
Uma coisa Romer sabia, a partir daquele dia o Colégio todo iria saber quem era ele. Ele já estava prevendo, seria eternamente conhecido como aquele cara que teve um ataque!
Bom, agora Romer estava pensando na desculpa que teria que arranjar para faltar a festa do seu avô. Ele precisava ir ao acampamento, não podia faltar. Afinal de contas, a Bel estaria lá...