O conto de Romer - O Segundo Capítulo

Romer Copella não tinha nada de especial, pelo menos era o que ele achava, mas ele tinha razão em achar, afinal, era apenas um garoto de 17 anos normal, que como 97% das pessoas, tinha uma altura média, cabelos escuros e aparência simples. Porém, a partir daquele dia, Romer se tornou um garoto especial, agora ele era capaz de ver o que ninguém mais via, coisas que todos vemos, mas nem todos enxergamos a sua verdadeira essência e beleza. A partir daquele dia, Romer se tornou protagonista e principal espectador da sua própria vida, da sua própria história.
                Para esclarecer aos caros leitores um pouco mais sobre o universo que circunda a vida de Romer, segue alguns esclarecimentos:
                Em um dia nublado de sábado, exatamente há 17 anos, três meses e uma semana antes do cachorro Back morrer, Romer nasceu. Esse dia nublado era um dia comum para a maioria das pessoas lá fora, mas dentro do Hospital São Nicolau, na ala da enfermaria, aquele era um dia único para Samantha Rios. Aquele dia nublado foi o mais excitante e assustador da vida de Carlo Copella, porque era naquele dia que o seu primogênito iria nascer, Carlo havia pensado em tudo, porém não acertou nada, talvez por esse motivo Carlo achava aquele dia o mais excitante e assustador, porque havia anos que ele não se sentia assim,sem saber o que aconteceria, sem saber o que realmente poderia dar errado.
                Samantha gritava de forma intensa, ela optou por parto normal, afinal sempre seguia as recomendações dos especialistas em todos os assuntos. Samantha tinha o hábito de pesquisar por tudo, para que nada desse errado, nem sempre tinha sido assim, na verdade ela havia se tornado assim. Leu numa revista que o parto normal seria mais saudável para a mãe e para o bebê, porém nesse momento havia se arrependido amargamente dessa escolha. Enfim, em meio a gritos intensos e contrações intermináveis, o sofrimento terminou, a sala de parto havia se tornado um ambiente de muita paz e silêncio, não se ouvia nada.
                Samantha parecia está em outro plano, um completo alívio, toda aquela dor havia passado, ela apenas fechou os olhos e respirou aliviada...silêncio...
                A mãe de primeira viagem estava tão desgastada e aliviada que esqueceu um pequeno detalhe...o seu filho.  Então Samantha abriu os olhos devagar, não conseguia ver muita coisa, mas notou uma certa movimentação estranha das enfermeiras, estranhamente elas não davam atenção a Samantha, perambulavam de um lado a outro sem notar a presença de Samantha na sala de parto.  Novamente Samantha deixou de pensar em si mesma e lembrou do seu filho, abruptamente despertou e tentou falar alguma coisa, mas nenhuma voz saia, Samantha não conseguia distinguir o que estava se passando na sua mente, tinha uma técnica para nunca perder o controle, mas essas técnicas ensinadas em revistas eram a ultima coisa que estavam se passando na cabeça de Samantha.
                Romer não começou a respirar, por esse motivo tiveram que reanimá-lo. Dizem que quando isso acontece é porque a criança ainda não estava preparada para a confusão do Mundo fora da mãe.
                Aquilo era novo para Samantha, alguns minutos depois o seu bebê foi levado a ela. Prontamente ela agarrou o seu filhote, ele tinha os olhos fechados, como se não quisesse ver o que estava acontecendo, como se ainda quisesse o calor intrínseco de sua mãe.
                Samantha foi tomada por uma alegria imensa, então, encostou a cabeça próxima a cabeça do seu filho e cheirou o ar que saia da sua boca, ela pensou que se a vida tivesse um cheiro, seria aquele, afinal aquilo era vida pura, livre dos problemas, das poluições e tudo mais que engloba o nosso universo. Aquele cheiro nunca foi esquecido por Samantha. De repente ela havia sido tocada por um sentimento forte e feroz, ela não conseguia distinguir quem era ela e quem era o bebê.
                Do lado de fora, Carlo não sabia o que fazer, não havia nenhum parente ali, ninguém que ele pudesse se gabar do filho que acabara de nascer,então decidiu abraçar a todos. A cada enfermeira que passava apressada ele gritava.
- Eu sou pai! Meu filhinho nasceu! As enfermeiras, então, olhavam felizes, davam os parabéns, depois voltavam à expressão que estavam antes de serem abordadas por aquele pai empolgado, todos os dias elas viam a mesma cena, haviam se acostumado a toda aquela agitação.
                Carlo perambulava pelos corredores, não conseguia se conter a tamanho orgulho, ele tinha que por aquilo pra fora de alguma forma. Em meio as abordagens  a estranhos, ele topou com um casal de velhinhos que passavam por um dos corredores do Hospital, que por sinal pareciam todos iguais. Carlo abraçou a ambos e disse eufórico.
-Meu filhinho acabou de nascer, ele é saudável, tem tudo no lugar, teve uma parada respiratória, mas conseguiram reanimá-lo, agora ele está bem! É o meu primeiro filho!
-Meus parabéns!Espero que venham outros, os filhos são uma benção de Deus, nós estamos visitando nosso netinho que acabou de nascer também. A velhinha estava muito contente também, porém Carlo não prestou muita atenção, na sua cabeça, já fazia planos de como seria a sua vida dali por diante.
                Alguns corredores adiante, Carlo avistou um rapaz sentado em um dos bancos do hospital, estava de cabeça baixa com um dos  braços apoiado encima de uma imagem de algum Santo que Carlo  não conseguia identificar qual era.
                Sem pensar duas vezes, Carlo se aproximou do homem e falou:
- Anima-se, cara! O Mundo é um lugar feliz! Meu filhinho acabou de nascer, é meu primogênito! Não podemos perder tempo ficando tristes, temos que apreciar as coisas boas, os bons momentos! Garanto que você tem uma família linda para se orgulhar!
                O homem levantou a cabeça devagar e olhou para Carlo com uma expressão vazia nos olhos, ele parecia estar em outra dimensão, não se via nada além de um vazio gigante na sua face. O homem esperou Carlo acabar de falar, após isso, houve alguns segundos de silêncio, então o homem tentou resgatar o pouco da coragem que ainda tinha pra dizer umas poucas palavras:
-Eu também sou pai, tenho muito orgulho da minha família, mas uma parte de mim não está aqui nessa sala falando com você, uma imensa parte de mim se foi, junto  o meu filhinho...
                O homem parou de falar, a força que ainda conseguiu encontrar para falar aquilo havia acabado, ele apenas olhou fixamente alguns instantes para Carlo e simplesmente voltou a posição que antes se encontrava.
                Carlo foi pego de surpresa, em meio a toda aquela alegria, não se passara na sua cabeça que alguém poderia estar triste. Ele ficou ali parado em frente aquele pai desolado, não sabia o que fazer ou o que falar. Então foi interrompido pela voz de uma enfermeira chamando por seu nome:
-Senhor Carlo Copella! Carlo Copella!
-Sim, sou eu!
-O senhor já pode ver o seu filho, pode vim por aqui.
                Carlo então foi tomado novamente pelo estado de euforia, e seguiu a enfermeira até o seu filhinho.
                Poucos dias depois, Samantha teve alta do Hospital, era o lado bom de fazer o parto normal, porém estava louca para chegar em casa, não agüentava mais aquele quarto de Hotel. Não se passou pela cabeça de Carlo e Samantha que seu bebê fosse nascer em sua viagem a  Pontes do Norte, uma vez que ainda faltava um mês para a data prevista. O que eles mais queriam era voltar pra casa e mostrar o seu novo bebê a todos.